Editorial que escrevi no Público, 22 de Dezembro de 2006
"O terrorismo laboral não é um exclusivo de certos patrões. Alguns trabalhadores e sindicatos também conseguem, quando se esforçam, atingir níveis indecorosos na defesa daquilo que julgam ser os seus direitos. O que se está a passar nos últimos meses no Metro de Lisboa é um bom exemplo disso. Sucedem-se as greves, cirurgicamente marcadas para períodos de hora de ponta com o objectivo de transtornar mais e ser notada por maior número de pessoas. O que é pena é que a generalidade dos utentes não perceba o que está em causa nesta reivindicação dos trabalhadores do Metro. Eles protestam porque estão contra a revisão do Acordo de Empresa actualmente em vigor e querem prolongá-lo até 2011. E o que querem os trabalhadores da empresa manter? Um regime de férias que chega aos 36 dias e meio úteis por ano (recusam reduzir para 28 dias e meio, contra os 22 que a generalidade dos trabalhadores têm); períodos de trabalho diários de seis horas, divididos em dois períodos de três horas em que um deles é passado sem conduzir; prémios de produtividade automáticos (isto é, desligados da produtividade...) de 12 cêntimos por quilómetro percorrido e pago mesmo em relação ao 13º e 14º meses; e outras regalias e subsídios que tornariam a gestão de qualquer empresa numa aventura que só pode acabar mal.
Mas o Metro é uma empresa do Estado e, por isso, não vai à falência. O prejuízo anual de 160 milhões de euros é pago, claro está, pelos contribuintes. E muitos destes têm sido deixado apeados várias manhãs por um pequeno grupo de trabalhadores que acha que eles têm a obrigação de pagar os seus 36 dias úteis de férias por ano. 36 dias e meio, para ser mais rigoroso."